Dez
minutos
Menos que um quarto de hora,
dez minutos ou seiscentos segundos. O decorrer do tempo passa em função da
necessidade que temos do tempo, em função de como encaramos o tempo. Dez
minutos podem representar os únicos e pequenos, dez breves momentos, como também
podem representar os infindáveis seiscentos segundos.
Dez horas podem representar
o tempo de dez badaladas, tocadas por alguns minutos, em menos que dez minutos.
Badaladas soadas em um sino de igreja, para a audição de alguém que more em uma
cidade do interior. As dez badaladas que acontecem depois de outros nove intervalos
iguais, que foram iniciados com apenas uma badalada do sino. E quando o sino da
igreja tocar o indicativo de dez horas, as dez badaladas, aquele que toca o
sino já terá feito mais de cinquenta vezes o mesmo gesto, o gesto exaustivo e
repetitivo de tocar um sino. Quem toca o sino não acompanha a procissão.
Quem mora em uma cidade
grande tem a opção de escolher o tempo. Pode seguir o tempo de uma igreja
próxima, ou contar os segundos de um relógio digital. É uma questão de livre
escolha o tempo, entre o badalar dos sinos, o tic tac dos analógicos ou o
barulho imperceptível dos digitais. A vida e o tempo estão nas mãos.
Quem não tem lenha para
rachar, não tem fogão á lenha para acender, não tem coador de pano para lavar e
secar, e não tem água para esperar ferver; precisa criar outras estratégias para
preparar ou tomar um café.
Quem não tem dez minutos
para preparar uma cafeteira, simplesmente colocando pó de café e água, ligar, e
aguardar os minutos restantes para terminar. Terá que sair de casa sem tomar
café, e talvez parar desesperadamente em um local que possa oferecer um café
pronto. Tomará o café sem saber quando foi preparado, e por quem foi preparado.
Não sentirá o aroma do pó e o aroma do preparo. O ato de cozinhar é um ato perigoso,
quem mexe com fogo pode se queimar ou queimar alguém.
Quem não tem dez minutos
para em uma manhã, ir até a padaria comprar pão, terá que sair de casa sem
tomar café e sem comer um pão fresco. Perderá o momento do sabor e do aroma. Um
momento de saberes e sabores. O momento de sentir o aroma e o sabor do café. E
do pão quente, derretendo a manteiga passada sobre ele. O momento de imaginar
uma vida em uma fazenda, com produtos frescos sobre a mesa no frescor da manhã.
O momento de um backup fisiológico e cerebral, antes do dia começar.
Quem não tem dez minutos
para sair de casa e ir andando até a estação de metro mais próxima, terá que
sair desesperadamente com o carro da garagem e seguir solitário pelas ruas
engarrafadas até o seu destino.
Quem não tem tempo de pegar
um metro ou ônibus, não terá dez minutos para observar quem está sentado ao seu
lado. Quem não tem tempo de voltar para casa, depois do trabalho, chegara a uma
casa, com ares e lugares de uma extensão do trabalho, mesmo sendo sua casa.
Quem não tem tempo, dez
minutos que sejam, para ouvir alguém, não terá tempo para se escutar. Quem não
tem tempo para olhar para alguém, ainda que só dez minutos, não terá tempo para
se auscultar. Quem não tem tempo para os outros, não terá tempo para se
observar. Aquele que se coloca em sua frente, pode ser o espelho, que reflete
seus comportamentos.
Dez minutos não é um tempo
suficiente para escrever um texto. Dez horas são excessivas para se trabalhar. É
preciso mais que dez minutos para colocar sobre a linha de escrever: uma letra maiúscula
e um ponto final. E depois ir colocando as ideias no meio. Mas dez minutos é um
tempo mais que suficiente para enviar uma mensagem. E um segundo é suficiente
para mudar tudo para sempre.
Quem não tem dez minutos
para ler e interpretar um texto poderá dar um salto em um segundo, e levantar
dizendo que o texto é uma critica a sua falta de tempo.
Texto
disponível em:
Rio de Janeiro/RJ ─
14/10/2014
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Texto produzido para:
Blogs
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Palavras Chaves: gestão; qualidade; conhecimento
Palabras Clave: gestión; la calidad; el conocimiento
Key Words: management; quality; knowledge
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