O
que a mão não pega, a casa da conta.
Um ditado popular, e a
princípio de uso doméstico. “O que a mão
não pega, a casa da conta”. Ainda que não se saiba o que aconteceu com
algo, ou onde está localizada determinada coisa; onde foi guardada ou esquecida,
pensou-se em guardar e não se guardou; pensou-se em contabilizar e não se
contabilizou. Um dia ela aparecerá, “a coisa” ou “o objeto”, esquecido ou
desaparecido vai aparecer. Um dia a casa vai dar contas do desaparecimento, vai
mostrar onde “a coisa” ou “o objeto”, “o trem”, “o treco” está, esteve, ou
estava. Onde ficou esquecido, longe dos olhos e das vistas do dia a dia. O
referido “objeto” ou “coisa” só não aparecerá, se algum inescrupuloso fizer o
favor de se aproveitar, e surrupiar, esconder e se calar. Aproveitar-se do
esquecimento ou da desorganização alheia.
Até alimentos esquecidos ou
largados por desleixo, em cantos escondidos pela casa, um dia aparecem. Um
pacote de biscoitos ou salgadinhos, aberto e não terminado, podem estar no
final das trilhas de formigas. As hortaliças esquecidas lá no fundo da
geladeira, um dia serão denunciadas pela sua cor amarelada. A fruta esquecida
na fruteira, um dia será lembrada primeiro pelo cheiro de fruta muito madura, e
depois pelo odor de podridão. O lixo esquecido de ser despachado será
denunciado, pelo odor da sua putrefação.
Uma arrumação no fundo da
casa ou no fundo do quintal, uma arrumação dos fundos de um armário ou no fundo
de uma gaveta traz de volta coisas esquecidas ou desaparecidas. Uma arrumação
nas estantes traz de volta ideias e livros esquecidos, areja os livros e
oxigena as ideias.
Os finais dos anos são
marcados em muitas casas, como uma época de arrumação, consertos e reparos, pinturas
e reformas, para que tudo possa estar em seu lugar quando um novo ano
recomeçar. Começa com uma ação de armar
uma árvore de Natal, ou um presépio. Um armar sugerindo um planejar, item por
item. A cada ano pode ser acrescentado um novo detalhe na árvore de natal ou no
presépio. A palavra Natal vem de natalício, nascimento e renovação. Ano Novo e
Vida Nova, reinício e começo de uma nova era.
Ainda que formigas ou
baratas ataquem restos de biscoitos ou outras guloseimas, restarão as
embalagens. Só os ratos encontram restos de comida e carregam para seus
esconderijos. E ratos que tem adoração por outros tipos de coisas e objetos, não
alimentícios ou não perecíveis, também poderão subtraí-los com objetivo de
levar para suas tocas ou casas.
O
que a mão não pega, a casa da conta. Um ditado bem antigo, que
parece andar muito pouco lembrado nas esferas governamentais. Atitudes e
comportamentos que afetam a ética, colocando em duvida o caráter, quando partimos
da premissa que o aprendizado e os bons costumes partem de um exemplo, dado por
aqueles que detêm um comando e um poder.
Tornou-se um modismo dizer
que não se sabe de nada, do que acontece, e principalmente do que aconteceu
dentro dos limites de uma casa. Seja ela de uso privativo e particular ou de
uso público e governamental. Um modismo aplicado nas esferas do governo que
pode contaminar esferas sociais a níveis domésticos.
O olhar do dono é que
engorda o gado, ainda que a grama do vizinho possa parecer mais verde.
Em uma Era das informações e
inovações, diversas estratégias já foram criadas para permitir um controle do
que acontece em um espaço delimitado, independente de seu tamanho. A começar
pela invenção das chaves, que hoje são senhas. A posse de uma chave de uma casa
deveria ser como uma senha, pessoal e intransferível. Deixar senhas e chaves ao
alcance dos outros é o mesmo que deixar uma porta aberta convidando a que
passe, usar e desfrutar, entrar e sair sem somar e só subtrair. Balanços e
balancetes, checklist e conferencias apontam entradas e saídas, aparecimentos e
desaparecimentos.
E como dizia a minha avó: O que a mão não pega, a casa da conta. E
agora outras casas podem dar conta daquilo que não lhes pertencem, basta um
pequeno descuido na colocação de fotos em redes sociais.... A animação das
festas deixa transparecer atos furtivos, que acabam por confirmar suspeitas.
RN
24/12/14